Neil Gaiman fala sobre Batman, quadrinhos e o filme de Sandman

, 0 Comments »

Saiu nas comic-stores estadunidenses a edição número 853 de Detective Comics, que mostra a conclusão do arco Whatever Happened to the Caped Crusader? ("O que aconteceu com o Cruzado de Capa", em português), escrita por Neil Gaiman. O arco mostra a última história do Homem Morcego, numa homenagem semelhante àquela que Alan Moore fez 23 anos atrás ao Superman em Whatever Happened to the Man of Tomorrow?, um dos maiores clássicos dos quadrinhos.

Gaiman falou à Wired sobre como foi escrever a história e também sobre as adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos. Segue alguns trechos do que Gaiman, membro da santíssima trindade dos quadrinhos (que está mais para Dualidade, nos últimos anos), disse na entrevista.

Como ele aceitou a missão de escrever a "última história" do Batman

"O telefone tocou há mais ou menos um ano e era Dan DiDio da DC Comics. Ele disse, 'Olha, a gente vai fazer o que fizemos 23 anos atrás com o Superman, mas com o Batman. Vamos parar com as revistas mensais, então reiniciar e renumerá-las, então não haverá uma revista do Batman por algum tempo. Gostaria de escrever a última edição do Batman e Detective Comics da mesma maneira que Alan Moore fez com Whatever Happened to the Man of Tomorrow'? Foi uma combinação estranha, achei que, se eu não o fizesse outra pessoa faria e ela poderia estragar tudo. Mas também, eu amo o Batman. O ideal platônico do Batman, bem como alguns Batmans em especial ao longo dos anos. Achei que seria bem interessante".

Sobre a continuidade nos quadrinhos hoje em dia

"Continuidade nunca foi algo com que eu realmente me preocupasse. Você usa onde precisa usar, e não usa onde não precisa. É fato que temos de viver em continuidade no dia a dia, ninguém está imune a isso, seja na vida ou em romances. Da mesma forma, não é algo que eu ache terrivelmente importante. A maravilha disso tudo é que há 70 anos de Batman, e eu queria tentar falar sobre tudo isso. O Superman de Alan Moore ainda é tão legível quanto foi em 1985. [...] O que eu quis fazer é a última história do Batman. Como ela seria? E queria jogar bem limpo com o leitor. Então, o que eu quero dizer, é que honestamente não importa se está dentro ou fora da continuidade, [...] esta é a última história do Batman. Ele está morto e é isso que acontece".

Sobre o impacto que a história tem

"As pessoas costumavam me perguntar sobre Sandman quando eu ainda escrevia a série, e a resposta é que eu estava envolvido demais para perceber o que estava fazendo ou sentindo. Décadas depois, eu pude olhar para trás e falar: 'Caramba, nós conseguimos'! Lembro de George Harrison reclamando que ele não tinha a mínima ideia do que os Beatles representaram para os anos 60. Então, a verdade é que eu não faço a mínima ideia".

Sobre filmes de super-heróis

"A Marvel tem sido mais bem sucedida do que a DC Comics, apesar da DC ter acertado na mosca com O Cavaleiro das Trevas. [...] O filme do Homem de Ferro me fascinou. Ele pegou um personagem [bem lá no topo] do segundo esquadrão da Marvel e acertou. Tanto que todo mundo hoje fala 'ah, é por isso que eu amo o Homem de Ferro'. O feito de O Cavaleiro das Trevas é, 'é assim que uma história do Coringa deveria ser feita'".

Sobre um filme de Sandman

"Há conversas com a HBO para adaptar Sandman, porque ninguém sabe de fato como fazer isso. A verdade é que, se alguém for fazer um filme de Sandman, provavelmente será algum garoto que está na escola de cinema agora, para o qual Sandman foi a coisa mais importante de todos os tempos. Exigirá o mesmo grau de comprometimento, dedicação e loucura que Peter Jackson teve para adaptar O Senhor dos Anéis. Honestamente, eu posso já estar morto quando isso acontecer. [...] Ele não está num formato filmável. Eu tive uma reunião há uns dois anos e meio na Warner com Allan Horn e Jeff Robinov sobre a situação de Sandman, porque eles não entendiam a coisa e os diretores ficavam perguntando se eles conseguiriam fazer a adaptação. [...] No final, fiquei bem orgulhoso de resumir 2000 páginas de história em um quadro visual, e o que eu consegui foi: 'Jeff e eu conversamos no almoço sobre as franquias Harry Potter e O Senhor dos Anéis, e concordamos que ambas foram bem sucedidas porque tinham um cara malvado claramente definido. Será que Sandman tem um cara malvado claramente definido?' Eu disse 'não, não tem' e eles disseram 'obrigado por ter aparecido'. Eles sabem que, mesmo sendo uma das joias da coroa dos quadrinhos, não foi feito para se tornar um filme".

Gaiman também fala que, em Whatever Happened to the Caped Crusader, fez duas homenagens à história que Alan Moore fez ao Superman. Uma delas está no final, e outra estava no começo mas foi cortada por ser óbvia demais. A história começaria com Batman perguntando se está sonhando, ao que uma voz responderia "Não, não é um sonho, nem uma história imaginária". Esta é uma citação direta às palavras com que Moore abre Whatever Happened to the Man of Tomorrow, dizendo "esta é uma história imaginária... e não são todas"? Esta frase é tida como uma das mais marcantes da história dos quadrinhos.

Delfos

0 Responses to "Neil Gaiman fala sobre Batman, quadrinhos e o filme de Sandman"

Postar um comentário