Nova versão de 'Jornada nas estrelas' é show de ação sem estragar personagens
[Cinema] 0 Comments »Um jovem Kirk admira a construção da nave USS Enterprise (Foto: Divulgação)
Muitas franquias bem-sucedidas de cinema e TV já passaram pelos chamados "reboots" -- traduzindo do informatiquês, a iniciativa de recomeçar tudo do zero, como se nada tivesse acontecido antes naquele universo ficcional. Os casos mais famosos e recentes envolvem, na TV, a série "Battlestar Galactica", e no cinema os filmes de Batman e James Bond -- todos sucessos estrondosos. Mas nunca ninguém tentou fazer um "reboot" como J.J. Abrams agora está fazendo com "Jornada nas estrelas". Esforço, aliás, que tem tudo para ser bem-sucedido.
O que o criador de "Lost" e diretor de "Missão: Impossível 3" acaba de realizar em seu "Star trek", que estreia nos cinemas mundialmente nesta sexta-feira (8), era de fato a única maneira de convidar o público que não curtia "Jornada nas estrelas" a ir ao cinema e, ao mesmo tempo, não alienar os fervorosos seguidores da série original. Para obter a façanha, ele conduziu um virtual "reboot" da série, usando a própria história do filme para justificá-lo -- e assim pagando tributo a tudo que se passou antes.
Como operar essa mágica? A receita encontrada pelos roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman (dupla que também levou os robôs Transformers ao cinema) foi usar um elemento do futuro longínquo -- envolvendo inclusive um personagem conhecidíssimo, o inefável Sr. Spock, mas bastante envelhecido e interpretado pelo ator da série original, Leonard Nimoy -- que volta ao passado e altera profundamente o rumo de toda a história -- interferindo até mesmo na vida pessoal desses personagens tão conhecidos, originados na clássica série de televisão dos anos 1960.
Com esse elemento mirabolante da trama (que mais parece saído dos paradoxos inexplicáveis de "Lost"), o produtor e diretor Abrams consegue tirar impressões distintas de fãs e não-fãs: enquanto os primeiros vão se deleitar observando as consequências dessa incursão pelo tempo para o universo que aprenderam a amar nos últimos 42 anos, os últimos vão poder apreciar uma aventura espacial sem ter de se preocupar com dez filmes e mais de 700 episódios que a precederam.
E que aventura! Logo nos primeiros minutos, o filme coloca o espectador na ponta da cadeira, com uma batalha espacial de efeitos visuais espetaculares, cortesia da famosa empresa Industrial Light & Magic. E aí, depois de acordar todo mundo com essa nave alienígena gigantesca e monstruosa que chega do nada e detona completamente os heróis da ocasião -- matando inclusive o pai de um certo James T. Kirk, então um bebê que acabara de nascer --, a história avança por uma rota totalmente diferente.
Zach Quinto (Spock) e Chris Pine (Kirk) (Foto: Divulgação)
É o momento oportuno para visitarmos a infância de Spock, segregado de seus colegas vulcanos por sua herança meio-humana, e de Kirk, profundamente afetado pela morte precoce de seu pai, diante do ataque executado por Nero, o tal vilão impiedoso vindo do futuro.
A essa altura, com a mudança de ritmo, do espaço para o chão, o relevo passa a ir todo para os atores -- um talentoso elenco escalado para reviver esses personagens.
Zachary Quinto (Spock) e Chris Pine (Kirk) parecem ter sido feitos para os papéis. Sem tentar "emular" os antigos intérpretes (Leonard Nimoy e William Shatner), os dois conseguem trazer à tona o que havia de melhor na dupla, imprimindo relevância a essas criações da década de 1960 para uma audiência do século 21.
A partir daí, o filme volta a seu ritmo frenético, num crescendo -- muita ação, entre batalhas espaciais e lutas em solo, conduz o filme a um clímax, em que o futuro de muitos planetas está em jogo, e o destino do universo depende de uma tripulação novata escalada para a recém-construída USS Enterprise.
Questão de escala
Se o que está em jogo parece grandioso, a escala do filme é exatamente essa. Com um orçamento estimado em cerca de US$ 150 milhões, é de longe a mais sofisticada produção de "Jornada nas estrelas". Abrams, que foi produtor e diretor do filme, quer dar a "Star trek" um inédito vibe de vida real, e para isso faz uso de locações sempre que possível ao longo da película.
Para exemplificar isso, basta dizer que a "nova" engenharia da nave Enterprise é na verdade uma unidade da cervejaria Budweiser, na Califórnia. Mais "pé-no-chão" impossível.
Nas cenas espaciais, Abrams contou com a assessoria científica de Carolyn Porco, cientista responsável pelas imagens da sonda Cassini, da Nasa, espaçonave da vida real que trabalha nos arredores de Saturno. Não por acaso, o famoso planeta dos aneis e a maior de suas luas, Titã, aparecem no filme. Tudo em nome do realismo.
Ao final das contas, todos os elementos -- inclusive o de marketing, que esteve praticamente ausente do universo de "Jornada nas estrelas" nos últimos anos -- se reunem ao longo de pouco mais de duas horas para produzir o mais frenético e tecnicamente bem-produzido filme da série -- e sem alienar os personagens, que sempre foram a essência do programa original.
Um novo começo, sem dúvida, que tem tudo para ampliar a base de fãs da venerável franquia da ficção científica, trazendo definitivamente Kirk, Spock, McCoy e cia. de volta ao radar da cultura pop contemporânea. Isso para não falar em continuações...
G1
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